Dia Mundial da Justiça Social. Falemos de Justiceiros Sociais.
- Luís Pedro Monteiro
- 20 de fev. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de mai. de 2023
Justiceiros sociais – para recorrer a um vocábulo recentemente em voga – são os energúmenos da sociedade. Aqueles que não apenas se ofendem com progressos alheios, como procuram espezinhá-los e regozijar-se com a sua derrota. O ser humano tem dessas coisas.
Pitágoras dizia que o "homem é a medida de todas as coisas"; não sei tinha razão, mas talvez seja o ser vivo mais impressionante de todos, pela inteligência, pelos feitos, mas também redução de consciência a que se consegue submeter. Conseguimos ser muito grandes, mas também muito pequenos.
Enquanto miúdos, todos aqueles que nos rodeiam perguntam: "O que queres ser quando cresceres?", como se a profissão de futuro definisse o tipo de pessoa que nos tornamos. E todos ficam alegres com as respostas variadas que recebem.
Os pais veem nos filhos os sonhos que nunca alcançaram e muitos batalham a vida inteira para que os conquistem, realizando-se assim, de algum modo, nas conquistas dos filhos.
Os anos decorrem e os sonhos acompanham-nos. A determinada altura, a vida testa-nos e muitos desses sonhos não resistem. Não pelo esquecimento ou perda sentido, mas pela incapacidade de resistir à pressão social que intervém como um teste árduo de fidelidade e convicção.
A maioria de nós não resiste a essa pressão, como se sonhar fosse apenas digno da infância, tornando-se sinónimo de heresia ou afronta à sociedade regular. Como se viver não fosse uma viagem bela e única, que apenas vale a pena quando permanecemos fiéis a nós próprios, mas antes um pesar, um sacrífico que deve repartido por todos e por igual.
É uma questão crónica e intergeracional. Um padrão social enraizado que define máximas de sucesso – “Forma-te, encontra um bom emprego, casa e tem filhos”. E quando, os ainda jovens, se afastam de algum modo desse padrão, começam a sentir a pressão dos justiceiros.
Um ciclo vicioso do antigamente, do velho regime, mas ainda instalado no presente e totalmente incompatível com o futuro e com os contornos que a tecnologia e a materialização do conceito de Aldeia Global vão definindo.
O mundo mudou, os justiceiros sociais estão cada vez mais fracos, mais vazios do que sempre foram e morrem ocos, sem nunca terem percebido o fundamento da sua existência, a essência da vida.
Muitos cedem à pressão e acabam por se perder nas suas convicções e na falta delas. O facto é que a vida é curta demais para aprisionamentos com base no policiamento social, curta demais para não aproveitar a viagem ao máximo na consideração de que pode não haver o amanhã.
Kant, numa das suas máximas, deixou-nos uma boa definição de justiça social: “Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal”.
Esse «agir» está primeiro, e antes de tudo, na relação contigo próprio, naquilo que acreditas e ambicionas. Mantém-te fiel a ti próprio e a viagem valerá a pena.
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